terça-feira, 10 de maio de 2011

Namoro ou amizade?


Detalhes do cotidiano das crianças nos dão pistas da chegada sorrateira de algumas mudanças de comportamento no mundo moderno. E confesso que às vezes, mesmo sabendo que não tenho como frear a evolução das coisas, me dá vontade de segurar o ponteiro do relógio e impedir o nascimento de alguns avanços. Porque levam de pouquinho, encurtam de mansinho, o tempo de ser criança. A época do faz de conta, da ingenuidade genuína. E de presente deixam uma precocidade desnecessária (e um tanto assustadora).

Uma das novidades que tenho acompanhado de perto é a do “namorico infantil”. Sim, porque as crianças na faixa dos dez anos já estão “namorando” como acontece com alguns amigos de escola do meu filho André – o mais novo da classe do quinto ano (quinta série é coisa do passado). Namoro com direito a troca de bilhetinhos apaixonados e telefonemas depois das aulas. E não para por aí. Nos enlaces modernos a garotada também frequenta a casa de seus pares aos finais de semana.

Ouço histórias que me chegam e tento apaziguar meu atordoamento. Tá bom que as crianças de hoje têm mais maturidade e conhecimento do que tínhamos quando éramos estudantes do primário. Concordo que as descobertas atuais parecem encurtar em segundos um tanto de estrada que tivemos que percorrer por anos. Mas franzo o cenho quando os capítulos dessa novela vão se descortinando e percebo que algo parece ter saído dos eixos. Será que perdi algum detalhe no caminho?  E me lembro que quase ontem meu filho ainda se vestia de batman.

Hoje os sentimentos das meninas de dez anos aproximam-se do das adolescentes da minha época. Têm os mesmos diálogos e questionamentos. E não é exagero. Queixam-se de ciúmes e sofrem por “amor”. Porque mesmo não havendo beijos tampouco carícias no relacionamento desses pequenos casais, há drama de sobra. Por parte das meninas a palavra de ordem é ansiedade. Prima do medo de perder o namorado e cunhada da raiva das outras garotas “que dão em cima do amado”. Pode? Pode e acontece. Daí, me pergunto: será mesmo que não posso ao menos tentar frear o tempo?

O que fazer quando se sabe que algo precisa ser feito? Ainda não tenho uma resposta satisfatória (aceito sugestões). Mas sinto que me identifico com alguns caminhos. Levantar a bandeira do resgate dos papéis de carta, bolinhas de gude e brincadeiras que juntavam democraticamente a turma toda, até mesmo a patota da outra rua hoje não funciona mais. Soa como papo de tia velha –too over.

Mas não posso incentivar os namoricos de faz de conta que se criam com a seriedade dos compromissos reais (com encontros regulares e exigência de comportamentos). Porque não entendo que nesse momento da vida dessa garotada o amor deva ser considerado mais importante do que todo o resto. O caminho do amor –necessário e maravilhoso, sim, deve ser apreciado no tempo e na velocidade que merece para que tenha verdadeiro significado lá para frente. A rapidez traz superficialidade. E assim me pergunto: como estarão namorando daqui a três anos? Xiiiii......

Percebo uma movimentação estranha de telefonemas, mensagens e risadinhas. O André ainda não está “namorando”, mas já planejo uma estratégia –sabidamente frágil, de ação. O namoro não será problema, mas sempre parte dos outros bônus da amizade. Trocando em miúdos: minha norinha será bem-vinda assim como toda a turma. Sempre com toda a turma. Casa cheia, coração cheio. Ai, que saudade da fantasia de batman.

2 comentários:

  1. Amei este post! sentimentos e sensações muito bem traduzidas. A solução final foi de uma esperteza que só uma mãe-Helga poderia ter, rss.O filho pensando:"como minha mãe é da horaa!!", os coleguinhas da turma comentando:"a mãe do André é tão legal", e a mãe só esperando: "quem será a menina??" . O filho não vai ver a mãe como "chata" ou "careta", as crianças vão programar a bagunça mais vezes, a norinha vai aparecer e cair na armadilha da sogra, rsss. Crianças...mal sabem que a mãe já tem tudo planejado, com movimentos friamente calculados (Chapolim, rss) para ter a situação sob controle, rs. Adorei a solução, é um "estar perto sem intimidar". Quem dera todas as mães pensassem como a Helga, o controle de natalidade funcionaria e teríamos mais crianças educadas!!rsss.

    ResponderExcluir
  2. Vivi! Pois é, as mães têm que improvisar alguns movimentos (mesmo que friamente calculados) quando são pegas de surpresa pela vida! Esse é um post laboratório....rs! Um beijo grande.

    ResponderExcluir