segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Declaração de amor

Quando me tornei mãe pude observar na prática o que já havia lido em revistas e livros especializados: o choro do bebê tinha muitos significados. Não era apenas conversa de gente antiga ou história para boi dormir. Para cada necessidade o pranto se fazia diferente mesmo e pude com o tempo treinar o ouvido para saber o que cada som queria de mim.

Com o choro eu também me comuniquei com a vida que eu apresentava ao mundo. E com ele vez ou outra continuo me expressando, de várias formas e intensidades, torcendo para que os meninos também treinem sua sensibilidade e o entendam como uma declaração de amor e não coisa de bebê chorão.

Quando me tornei mãe escrevi o texto que divido com vocês. E que jogue o primeiro lencinho quem nunca chorou ao ver nos olhos de um rebento a sua vida estampada.

Meu choro que parecia único não foi o último. Um choro que trouxe minha vida inteira naquele momento e, ao mesmo tempo, uma tranqüilidade absurda. Não contei o os dedinhos dos pés e das mãos do meu bebê, não fiz a análise da anatomia que as mães costumam fazer. Encontrei a perfeição naquele choro forte dele, de aviso a que veio. Eu entendi. Ele também me compreendeu. Meu choro cúmplice lhe disse um pouco de mim. A seqüência das cenas perdia sua linearidade e importância. A história podia começar ou terminar em qualquer ponto. O tempo foi coadjuvante. Meu choro, que parecia único, não foi o último. De todos os outros esse foi o mais verdadeiro. Me presenteou com uma generosidade desconhecida. Uma entrega sem limites. Eu choro, assim ainda algumas vezes. Quando percebo nos olhos dele uma saudade do nosso encontro”.

Simples assim


Folheando a apostila do meu caçula me surpreendi com uma das atividades realizadas em sala de aula. O exercício pedia que a criança desenhasse o que considerava mais importante na sua vida; algo que se um dia se perdesse no espaço faria muita falta. Os traços não traziam sua velha bola de futebol, nem mesmo seus bonecos-herois ou seu vídeo-game. Não é que meu pequeno desenhou sua família?

Fiquei emocionada não somente pelo gesto de carinho, mas pela profundidade de sua reflexão de maneira tão simples e rápida. Imaginava que na cabeça dos miúdos a família fosse como uma extensão de seu corpo e nunca pudesse ser desmembrada do todo. Então, numa pergunta como a colocada em exercício outros objetos de afetividade ganhariam mais espaço na memória.

A simplicidade das crianças por vezes não nos deixa enxergar a complexidade de seus pensamentos. Vão mais fundo que nós em interpretações sobre fatos cotidianos nos lembrando que tamanho não é documento. Enquanto temos alguns entraves para semear o joio do trigo, porque nossa experiência de gente grande nos guia por rotas alternativas, eles cortam caminho imunes a distrações.

Não é tão simples assim, no mundo dos adultos, resolver alguns exercícios de vida com tamanha objetividade – guardadas as devidas proporções.  Para os que ainda acreditam que criança “não entende nada” subestimando sua habilidade em refletir sobre o que a cerca, muito cuidado. Um dia o pensamento vira desenho.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Lição de casa

Todos os dias eles chegam da escola fazendo muito barulho. O corpo parece insuficiente para traduzir o turbilhão de emoções vividas em sala de aula. Além da fala –empolgada e rápida como dos locutores esportivos; o movimento dos braços, das pernas e até das mochilas ajudam a completar o contexto. São meninos.

No meio de tantas novidades há espaço garantido para contar o que trazem de lição de casa. Fico feliz por a encararem como diversão. Assim, sou imediatamente incluída no exercício diário deles, como mais um soldado do pequeno exército de bermudas que tenho em casa.  

Ajudo com algumas idéias e elogio as deles num entusiasmo verdadeiro. Reconheço com gratidão que tenho uma missão muito importante neste mundo. Fazer com que com minhas sementes, estas partezinhas de mim que necessitam ser alimentadas não só de pão, mas, e principalmente, de valores, ele se torne melhor. Essa é a minha lição de casa.